DE MESTRES JANGADEIROS À COMISSÁRIOS DE PEIXE

PODER E COERÇÃO SOCIAL NAS SOCIEDADES DE PESCADORES (1840-1930)

Palavras-chave: Pescadores, Figuração, Coerção social, Marinha de guerra

Resumo

Examino neste artigo sociedades formadas por jangadeiros da região que vai de Alagoas ao Ceará entre meados do século XIX e as três primeiras décadas do século XX. Sugiro que tais sociedades de pescadores, longe de constituírem figurações “igualitárias” ou “cooperativas”, apresentam historicamente formas específicas de relações de poder, as quais têm como ponto de partida conhecimentos tanto sobre a natureza não-humana de um território marítimo específico, como sobre embarcações e instrumentos de captura próprios a este território. Mediante redes políticas e comerciais, outros níveis hierárquicos e de estratificação são agregados a estes princípios elementares em decorrência de relações entre aquelas sociedades e figurações mais abrangentes, dentre as quais se destacam o Estado-nação e a marinha de guerra.

Biografia do Autor

Luiz Geraldo Silva, UFPR

Professor Titular do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná. Graduado (1986) e Mestre (1991) em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (1996). Atua nas áreas de História do Brasil Colônia, História da América, História Atlântica e História Marítima. Estuda milícias e história social de africanos e afrodescendentes livres e libertos nos impérios português e no mundo atlântico entre os séculos XVII e XIX.

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Publicado
2020-10-16
Como Citar
Silva, L. G. (2020). DE MESTRES JANGADEIROS À COMISSÁRIOS DE PEIXE. Mares: Revista De Geografia E Etnociências, 2(1), 109-121. Recuperado de http://revistamares.com.br/index.php/files/article/view/79