ENSAIO SOBRE MODOS DE VIDA E SABERES LOCAIS DAS COMUNIDADES DE PESCADORES ARTESANAIS

ESTUDO DE CASO DO DISTRITO DE MACHANGA (MOÇAMBIQUE)

Palavras-chave: Etnografia, Saberes locais, Pesca, Pescadores artesanais, etnografia das pescas, relações de género.

Resumo

O presente artigo expõe os modos de vida e saberes locais das comunidades de pescadores artesanais do distrito de Machanga localizado ao sul da província central de Sofala (Moçambique). Os dados empíricos aqui apresentados resultam de uma pesquisa realizada pelos investigadores do Centro de Estudos de Desenvolvimento Comunitário e Ambiente (CEDECA), da Universidade Licungo (Moçambique). A pesquisa decorreu em duas fases: a primeira articulou-se em torno do estudo do campo, com recurso a entrevistas semi-estruturadas e a observação direta. Deste estudo, conseguimos observar que as práticas locais continuam carregadas de uma vasta gama de conhecimentos míticos, religiosos e sobrenaturais. A segunda fase consistiu num levantamento bibliográfico da geografia da pesca e da sócio antropologia das sociedades marítimas, que nos ajudou a verificar a universalidade de alguns saberes e práticas locais das populações pescadoras deste distrito. Conjugados os resultados obtidos das duas fases da nossa pesquisa, concluímos que além de ser uma atividade econômica, a pesca produz uma linguagem simbólica que estabelece uma ordem gnosiológica própria através de ritos sociais. O recurso ao paradigma ecológico nos permite compreender os modos de vida e os padrões de comportamento das comunidades dos pescadores como resultado do processo da interação contínua que elas estabelecem com o meio em que estão inseridas.

Referências

AMARAL Manuel Gomes da Gama, (1968), O Povo Yao, subsídios para o estudo de um povo do noroeste de Moçambique, Lisboa, ICSP.
BONTE Pierre e IZARD Michel, (sob a direcção de) (1991), Dictionnaire de l’Ethnologie et de l’Anthropologie, Paris, Presses Universitaires de France.
BOURDIEU Pierre, (2012), A Dominação Masculina, 11. edição, (Tradução Maria Helena Kühner), Rio de Janeiro, Bertrand.
BRETON, Y., (1981), “L’anthropologie sociale et les sociétés de pêcheurs. Réflexions sur la naissance d’un sous-champ disciplinaire”, Anthropologie et Sociétés, vol. 5, nr. 1, pp. 7-27.
CASTIANO José P., (2013), Os Saberes locais na Academia: condições e possibilidades da sua legitimação, Maputo, Educar/Cemec.
CUNGUARA Elizete António, (2014), Estudo De Determinantes Da Adopção De Tecnologias De Processamento Artesanal De Pescado No Banco De Sofala, (dissertação de Mestrado apresentada na Universidade Eduardo Mondlane), Maputo, disponível em http://www.repositorio.uem.mz/handle/123456789/312/pdf
DESVEAUX E, “Mythes” in BONTE Pierre e IZARD Michel, (sob a direcção de) (1991), Dictionnaire de l’Ethnologie et de l’Anthropologie, Paris, Presses Universitaires de France, pp. 498-502.
DIEGUES António Carlos, (1999) “A sócio antropologia das Comunidades de pescadores marítimos no Brasil”, in Etnográfica. Disponível em http://www.ceas.iscte.pt/docs vol. 3, (2), pp. 361-375 Consultado em 17 de Abril de 2018, às 15:59.
______, (2004), A Pesca construindo sociedades: Leituras em Antropologia Marítima e Pesqueira, São Paulo, Nupaub-usp.
FELICIANO José Fialho, (1989), Antropologia Económica dos Thonga do sul de Moçambique, Maputo, INLD.
______, (1970), “Social Structure and Peasant Economy: the Influence of Social Structure upon Peasant Economies”. In WHARTON Subsistence agriculture and economic development. Frank Less.
FONSECA Marília, ALVES Fátima, MACEDO Márcio Chagas, AZEITEIRO Ulisses M., (2016), “O papel das mulheres na pesca artesanal marinha: estudo de uma comunidade pesqueira no município de Rio das Ostras”, Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, vol. 16, (2), 231-241. http://www.aprh.pt/rgci/pdf/rgci-593_Fonseca.pdf DOI: 10.5894/rgci593.
GEERTZ Clifford, (1997), O Saber Local: Novos ensaios em Antropologia Interpretativa, Petrópolis, RJ: Vozes.
IINO Fátima Satsuki de Araújo, (2017), Pescadores artesanais na Praia da Tesoura, Laguna/Sc: Reflexões sobre sociabilidades e Apropriações do Espaço, Florianópolis. Disponível em http://www.repositorio.ufsc.br/346474 pdf Consultado em 20 de Abril de 2018, às 14:41.
JUNOD Henri, (1996), Usos e Costumes dos Bantu (2 tomos), Maputo, Arquivos Históricos de Moçambique.
MALDONADO Simone Carmeiro, (1985), “Eu sou dono desta canoa: Reflexões sobre a antropologia da Pesca”, in Cadernos Paraibanos de Antropologia, UFPB, João Pessoa, pp. 43-55.
MARTINS Mary Lourdes Santana, ALVIM Ronaldo Gomes, (2016), “Perspectivas do trabalho feminino na pesca artesanal: particularidades da comunidade Ilha do Beto, Sergipe, Brasil”, Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, vol. 11, (2), pp. 379-390.
MARTINS, Maria Cristina, (2005), “Partilhando saberes na ilha de Itaoca: A roda de siri - entre o mundo do trabalho e as memórias de infância”, Niterói, Universidade Federal Fluminense.
MINISTERIO DAS PESCAS, Realizações do sector das Pescas (2006-2014)
MINISTERIO DA ADMINISTRACAO ESTATAL (ed.), (2005), Perfil do Distrito de Machanga, Província de Sofala. Disponível em http://www.govnet.gov.mz
MORAES Sérgio Cardoso de, (2005), Saberes da Pesca: Uma Arqueologia da ciência da Tradição, Natal. Disponível em http://www.repositorio.ufm.br Consultado em 17 de Abril de 2018, às 16:22.
MORGAN Lewis Henry, (1973-1974), Sociedade Primitiva, 2 volumes, Lisboa, Editorial Presença.
MOTTA-MAUÉS Maria Angélica, (1999) “Pesca de homem/peixe de mulher (?): repensando gênero na literatura acadêmica sobre comunidades pesqueiras no brasil”, Etnográfica, Disponível em http:// www.ceas.iscte.pt/docs vol. 3, (2), pp. 377-400.
NGALE Arlindo João, (2012), Pesca artesanal: a sua contribuição no rendimento dos agregados familiares da cidade de Maputo – Estudo de caso das comunidades de pesca de Gwachene e de Marítimo (dissertação de Mestrado apresentada na Universidade Eduardo Mondlane), Maputo. Disponível em http://www.repositorio.uem.mz/handle/123456789/134
RUBIO-ARDANAZ, Juan Antonio, (2003), “La antropología de la pesca, campo y oportunidades para la investigación antropológica: perspectivas desde el formalismo, sustantivismo y materialismo”, Zainak. vol. 25, pp. 237-257. Disponível em http:// www.researchgate.net. Consultado em 20-4-2018, às 14:32.
SILVA Lucas António da, (2015) “Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS”, Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, vol. 10, (2), pp. 537-547. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
TEMPELS R. P. Placide, (2016), A Filosofia Bantu, (tradução de Amélia A. Mingas e Zavoni Ntondo), Luanda: Kiwindula.
TURNER Victor, (1974), O Processo Ritual: Estrutura e antiestrutura, Petrópolis, Editora Vozes.
WOORTMANN Ellen F., (1991), Da complementaridade à dependência: a mulher e o ambiente em comunidades “pesqueiras” do Nordeste, Brasília. Disponível em http:// www.academia.edu Consultado em 11 de setembro de 2018 às 13:59.
VIEIRA Norma, SIQUEIRA Deis, PAOLO Darcy Di, (2014), “O que é de mulher e o que é de homem”: relações de gênero na pesca artesanal Comunidade de Bonifácio, Amazônia Oriental, Brasil”, Raízes, vol. 34 (1). Disponível em www.ceas.iscte.pt/docs Consultado em 11 de setembro de 2018 às 14:57
www.ine.gov.mz/operacoes-estatisticas
Publicado
2020-10-16
Como Citar
Waya, A. (2020). ENSAIO SOBRE MODOS DE VIDA E SABERES LOCAIS DAS COMUNIDADES DE PESCADORES ARTESANAIS. Mares: Revista De Geografia E Etnociências, 2(1), 51-60. Recuperado de http://revistamares.com.br/index.php/files/article/view/63