PESCA ARTESANAL E TERRITÓRIOS TRADICIONAIS

BREVES REFLEXÕES EM CONTEXTOS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

  • Mariana Santos Lobato Martins Laboratório de Ecossistemas pesqueiros (LabPesq) - Instituto Oceanográfico daUniversidade de São Paulo
  • Fabiane Fagundes da Fonseca
Palavras-chave: Racionalidades, Unidades de conservação, Sistema mundo-moderno-colonial, Territórios de pesca, Conflitos territoriais

Resumo

A pesca artesanal se configura enquanto um modo de vida tradicional, carregado de saberes e fazeres próprios do cotidiano desses sujeitos na (e com a) natureza. As relações dialéticas entre sociedade e natureza se materializam no território, o qual apresenta uma dimensão física, mas também simbólica, política, histórica e cultural. O estudo dos territórios tem sido realizado em diversos campos científicos, desde as ciências naturais às humanidades, variando em perspectivas, fins e percursos metodológicos. Este artigo, reflete a partir dos conceitos de território e pesca artesanal, em especial no contexto de unidades de conservação no Brasil. Compreende-se que o território se encontra em disputa tanto em sua dimensão conceitual, quanto concreta, apontando para a realidade dos conflitos ambientais territoriais. Deste modo, os territórios tradicionais de pesca, enquanto estrutura essencial para a existência do modo de vida pesqueiro artesanal, estão ameaçados pelo sistema mundo moderno-colonial, calcados em uma racionalidade científica instrumental, no qual podem se incluir as unidades de conservação. Diante disto, e considerando o papel do conhecimento científico na elaboração de políticas de gestão territorial, desponta a necessidade de pensar outras formas de fazer ciência, em especial no campo das ciências naturais, atuando a partir de um diálogo de saberes.

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Publicado
2022-07-11
Como Citar
Martins, M. S. L., & Fonseca, F. F. da. (2022). PESCA ARTESANAL E TERRITÓRIOS TRADICIONAIS. Mares: Revista De Geografia E Etnociências, 3(2), 87-99. Recuperado de http://revistamares.com.br/index.php/files/article/view/169