CARTOGRAFIA SOCIAL E QUILOMBOS PESQUEIROS NO BAIXO RIO SÃO FRANCISCO

O CASO DA COMUNIDADE BONGUE, ILHA DAS FLORES, SERGIPE

Palavras-chave: Hidroterritórios. Ancestralidade. Percepção ambiental.

Resumo

O foco do presente artigo é discutir a relevância que as relações entre a pesca artesanal e as tradições quilombolas são essenciais para a manutenção das identidades. O objetivo principal deste artigo é analisar a pesca artesanal e sua relação com a cartografia social no município de Ilha das Flores, Sergipe, mais precisamente na comunidade quilombola Bongue. Para alcançar tal objetivo, realizou os seguintes procedimentos metodológicos: encontros com representantes das comunidades, em grupos reduzidos, dado o período de pandemia, para a produção de imagens, peças gráficas, áudios, filmes, narrativas, a fim de produzir uma cartografia das subjetividades na comunidade. Através da construção de mapas e da análise dos relatos, foi possível obter informações sobre o cotidiano da comunidade, a importância da afirmação enquanto comunidade quilombola e como a pesca artesanal sofreu alterações nos últimos anos, especialmente devido ao barramento do Rio São Francisco. Conclui-se que a pesca artesanal atua como vetor econômico, e deve ser valorizada, a fim de que esta alimente não apenas a economia local, mas também a sua cultura, reforçando os processos de reterritorialização e de dupla afirmação identitária: a identidade pesqueira enquanto categoria de trabalho e a identidade quilombola enquanto categoria ancestral.

Biografia do Autor

Ticiano Rodrigo Almeira Oliveira, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

Engenheiro de Pesca, Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe, Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental pela Universidade do Estado da Bahia e cursando Licenciatura em Ciências Biológicas. Atua com projetos de pesquisa e extensão junto às comunidades de pescadores artesanais do litoral do estado de Sergipe. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestão, Saúde e Educação Ambientais (GESEA). Parecerista de periódicos científicos relacionados à pesca, comunidades tradicionais, campesinato e agricultura familiar. Publicou artigos em periódicos científicos nacionais e internacionais sobre a pesca artesanal e as comunidades tradicionais, em especial quilombolas e pescadores artesanais do Nordeste do Brasil. Com experiência na área de Extensão Pesqueira, e Educação Ambiental Crítica, atua nos seguintes temas: mudanças climáticas, pescadores artesanais, povos e comunidades tradicionais, educação ambiental crítica, campesinato, movimentos socioterritoriais, políticas fundiárias neoliberais e o combate à pobreza, território, agroecologia, soberania alimentar e hídrica.

Gênisson Lima de Almeida, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFS). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA/UFS (2017-2019). Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe nos anos de 2015 e 2022, respectivamente no Campus de São Cristóvão. Atuou como residente pedagógico no Colégio Estadual Professora Clarice da Silva, em São Cristóvão/SE por meio do edital nº 14/2020 do Programa Residência Pedagógica no período de 2020 a 2022. Durante os quatro anos de graduação, desenvolveu projetos por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UFS). É membro dos Grupos de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial (GEOPLAN/CNPq/UFS) e Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestão, Saúde e Educação Ambiental (GESEA/CNPq/UFS). Possui como áreas de investigação: Comunidades tradicionais e quilombolas, atividades extrativistas, com ênfase na pesca artesanal e mariscagem, território, impactos e conflitos socioambientais, cultura, identidade e saberes tradicionais.

Jailton de Jesus Costa, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

Pós-Doutorado em Geografia (UFPR-2022). Doutor em Geografia (2013) pela Universidade Federal de Sergipe. Docente Associado III da UFS, lotado no CAP. Docente Permanente dos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestão, Saúde e Educação Ambiental (GESEA/CNPq/UFS) e Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial (GEOPLAN/CNPq/UFS). Coordenador Adjunto do PRODEMA (2019-2021). Ex-Presidente da CPPD (2018/2021), da qual foi membro titular (2014-2017). Publicou, até o momento, 48 artigos em periódicos nacionais e internacionais, organizou 11 livros, autoria de 68 capítulos de livros, além da participação em 92 eventos científicos no Brasil e no exterior, com mais de 100 trabalhos apresentados entre textos completos e resumos. Tendo feito, até o momento, parceria acadêmica com 278 pesquisadores. Orientou 26 alunos de Iniciação Científica e 12 de Mestrado, 02 de Doutorado e orienta atualmente 06 de Doutorado e 03 de mestrado. É Mestre (2009), Bacharel (2009) e Licenciado (2006) em Geografia. Áreas de atuação: Gestão e Planejamento Ambiental; Dinâmica e Avaliação Ambiental; Indicadores de Sustentabilidade; Riscos e Vulnerabilidades Socioambientais e Climatologia Geográfica.

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Publicado
2022-12-01
Como Citar
Oliveira, T. R. A., Almeida, G. L. de, & Costa, J. de J. (2022). CARTOGRAFIA SOCIAL E QUILOMBOS PESQUEIROS NO BAIXO RIO SÃO FRANCISCO. Mares: Revista De Geografia E Etnociências, 4(1), 71-84. Recuperado de http://revistamares.com.br/index.php/files/article/view/150