MULHERES DA COMUNIDADE PESQUEIRA QUILOMBOLA, SOBERANIA ALIMENTAR E IDENTIDADE POLÍTICA PELA LUTA TERRITORIAL EM CONCEIÇÃO DE SALINAS, RECÔNCAVO BAIANO, BRASIL

Palavras-chave: Mulheres pescadoras quilombolas, identidade política, soberania alimentar, especulação imobiliária, luta territorial.

Resumo

A alimentação e o sustento dos pescadores e pescadoras artesanais em Salinas da Margarida-BA, Brasil, são baseados em processos tradicionais de produção e reprodução alimentar, socioeconômica, cultural e ecológica. Esses processos formam as pessoas, fortalecem a comunidade e a identidade pesqueira quilombola em momentos de crise. As mulheres pescadoras quilombolas desempenham um papel crucial na defesa desses processos, mas enfrentam discriminação racial e hostilidade numa conjuntura de avanço de projetos imobiliários e turísticos de famílias brancas com capital econômico e político na região do Recôncavo Baiano. Baseado em notas do diário de campo em 2018, conversas com habitantes da região e revisão da literatura, refletimos e valorizamos ditos processos, sobretudo os envolvidos com a comida e a alimentação, diante do cenário de conflitos pela posse e uso do território com famílias com poder regional. O objetivo é fortalecer a defesa atual dos territórios das comunidades pesqueiras quilombolas de Conceição de Salinas.

Biografia do Autor

Andrés Felipe Bernal Restrepo, UFPE

Antropólogo colombiano (Universidade do Rosário, Bogotá – Colômbia) mestre em geografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com experiência em pesquisa social e gestão de políticas públicas relacionadas à justiça, reparação territorial e proteção dos direitos humanos de pessoas afetadas pelo conflito armado no Caribe colombiano e pela crise migratória no Brasil. As principais áreas de pesquisa são a antropologia política e jurídica, os estudos territoriais, as análises sobre a prática e os diversos efeitos do multiculturalismo e o relacionamento intercultural e interétnico. Atualmente é professional técnico no Centro de Referência a Migrantes e Refugiados – CERMIR da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Humano da Paraíba, no acompanhamento particular ao fortalecimento organizacional e a proteção dos direitos indígenas da etnia vinda da Venezuela.

Mercedes Solá Pérez, FURG

Geógrafa argentina com formação em Licenciatura, Bacharelado, Mestrado (UFPR) e Doutorado (UFPE). Realizei pós-doutorado em Geografia (UFS) no âmbito do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras, medida de mitigação de impactos da indústria do petróleo. Trabalhei no Instituto Federal do Paraná – Campus Paranaguá entre 2021 e 2022. Atualmente, professora na Universidade Federal do Rio Grande – FURG (2023). As áreas de interesse são: os sujeitos do campo, das águas, das florestas e das cidades – especialmente comunidades pesqueiras artesanais -, r-existências sociais, questão agrária, questão ambiental e ecologia política.

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Publicado
2023-07-28
Como Citar
Bernal Restrepo, A. F., & Solá Pérez, M. (2023). MULHERES DA COMUNIDADE PESQUEIRA QUILOMBOLA, SOBERANIA ALIMENTAR E IDENTIDADE POLÍTICA PELA LUTA TERRITORIAL EM CONCEIÇÃO DE SALINAS, RECÔNCAVO BAIANO, BRASIL . Mares: Revista De Geografia E Etnociências, 4(2), 41-53. Recuperado de https://revistamares.com.br/index.php/files/article/view/199